Longe de vislumbrar uma crise de criatividade na teledramaturgia brasileira atual – o número de remakes não para de crescer –, Reynaldo Boury, o diretor do fenômeno de audiência Carrossel, do SBT/Alterosa, diz que o pensamento dele e da emissora de Sílvio Santos está voltado, no momento, para as crianças. “Elas estão muito carentes, principalmente de novela infantojuvenil”, justifica Boury, um veterano da telinha, cuja trajetória inclui passagens pelas extintas TVs Excelsior e Tupi, além da Globo.
No SBT desde 2010, depois de Amor & revolução, de Tiago Santiago, Boury aceitou o convite para substituir Del Rangel na direção de Carrossel, escrita por ninguém menos do que a mulher de Sílvio Santos, Íris Abravanel. “Os remakes”, admite Reynaldo Boury, “sempre são necessários”. Como faz questão de lembrar, a trama atualmente apresentada pelo SBT é exatamente a mesma do original mexicano exibido pela emissora paulistana em 1991. Além de mensagens e solidariedade, a trama não foge ao debate de temas como o preconceito social e racial.
“As crianças precisam saber conviver com os problemas do preconceito. Estamos fazendo tudo com muito cuidado. Infelizmente, essa ainda é a nossa realidade”, analisa o diretor, admitindo que Helena, a protagonista de Carrossel, é uma “professora de antigamente”. “O que é muito bom. Passa uma boa mensagem para as crianças”, acrescenta Reynaldo Boury, confiante de que o SBT vai continuar contribuindo para o fortalecimento da programação infantojuvenil na telinha. “Estamos procurando dar às crianças o entretenimento que elas necessitam”, diz o diretor, que não descarta a possibilidade de um remake de Chiquititas.
“Nada está resolvido quanto à próxima novela”, desconversa Boury, destacando a presença de Íris Abravanel no setor. “A Íris é uma batalhadora entre os novos autores. Está se saindo muito bem”, elogia. A existência de uma crise na teledramaturgia brasileira é descartada pelo diretor: “Não acho que exista uma crise de criatividade”. Instigado a comparar a produção de novela nas emissoras nacionais (SBT/Alterosa, Globo e Record), Reynaldo Boury lembra que a TV Globo faz telenovela há mais de 40 anos. “Com certeza, ela leva vantagem no ramo”.
Já a provável interferência dos proprietários das mesmas no desenrolar das tramas é descartada por Boury. “O Sílvio Santos nunca interferiu em Amor & revolução e em Carrossel só tem elogiado o nosso trabalho”, garante o diretor, para quem não houve qualquer alteração nos rumos da novela de Tiago Santiago, que se propôs a abordar pela primeira vez na TV a ditadura militar brasileira. Sobre os próximos trabalhos, Boury diz que pretende continuar dirigindo novelas enquanto a saúde permitir.
Reynaldo Boury acredita que as décadas de 1970, 80 e 90 viveram o auge da teledramaturgia brasileira graças a tramas campeãs de audiência como Dancin’ days (1978-1979), Roque Santeiro (1985-1986) eTieta (1989-1990), as três da Globo, a última, não por acaso, dirigida por ele. Crise no meio? “Que crise?”, interroga-se o diretor, que também não vê no formato minissérie uma alternativa. “Minissérie nada tem a ver com novela. São dois produtos distintos”, conclui com a experiência de quem ingressou na TV como câmera, ainda na TV Tupi. O diretor é pai da roteirista Margareth Boury e do também diretor Alexandre Boury.
Fonte: UAI
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